gosto dos homens do mar. pescadores principalmente.
não sei se é daquelas coisas que acontecem onde não há palavras e por isso é impossível explicar. ou uma intolerância em trazer para um território de justificativas o que não é para ser revelado. ou, principalmente isso, uma incompetência com os códigos da comunicação.
os homens do mar são esfinges. têm os mistérios guardados na pele queimada pelo sal. o olhar sabe do horizonte e da próxima onda, da lua e dos ventos, das profundezas e das estrelas. os homens do mar visitam músicas e conhecem tramas, dramas, damas e nós.
são costureiros de redes e destinos. dançam no vai e vem das marés e têm braços fortes para puxar âncora ou mudar velas. desafiam o vento.
a poesia está tatuada como primeiro sinal: coisa de nascença, não de aprendizado. e ela se mistura à virilidade dos tornos, às mãos pesadas e às marcas do rosto, o mais sensual do sal e do sol.
em cada um, uma certeza intrínseca – quem é de terra não sabe.
os homens do mar mantêm sua presença como um enigma. voltam. ninguém duvida e ninguém acredita. todos os dias são de adeus e de reencontro. partidas e chegadas. idas e vindas. eles têm as particularidades das ondas, se mandam pra dentro do grande rio e renascem na areia.
são do mar esses homens que sabem do amanhã e que conhecem os segredos das sereias.