órfã de pátria

não tenho vontade de voltar para casa.
mesmo.
o frio, a crise, o medo e as ameaças europeias não são suficientes para mudarem meu humor a respeito do Brasil.

a minha vontade é de me plantar aqui e comprar passagem de volta só para visitar alguns, ficar o tempo entre o amor e a saudade e retornar.

sei que há problemas por aqui e eles também nascem da mesma raiz que os do outro lado do Atlântico. mas os limites são riscados com mais severidade e isso permite coisas simples como pegar transporte público, não morrer de medo em cada esquina, poder comprar um remédio, reconhecer nos prédios da cidade o sentido de permanência e a valorização da história… essas coisas.

sou indiferente ao fato de ter nascido no mesmo país que Pixinguinha, Cecília Meireles, Rosinha de Valença e Drummond.
os nomes do mundo não são mais meus que de qualquer catalão ou italiano ou norueguês que compreenda suas particularidades.

o samba, a bossa ou o choro? os tenho comigo e acabo descobrindo-os ao vivo em todos os lugares em que ando.
feijoada, brigadeiro, pastel? sei fazer.
para livro de autor que gosto tenho a internet, o correio, os presentes dos amigos.

é triste, tristíssimo, perder a vontade e a conexão com a terra natal.
mas do mesmo tamanho é também o contrário disso.

obviamente voltarei para o Brasil. sempre voltarei.
mas não quero.
mesmo.

quer comentar? não se acanhe.

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