a impressão que tenho, às vezes, é que o ser humano não faz nada que não tenha como motivo final o sexo. como os rios escorrem para o mar, a existência caminha para cópula. mas fosse a obsessão em fazer, ou querer fazer, para desfrutar a maior parte da vida em prazer carnal, eu entenderia. ah!, como entenderia. mas a sociedade é estranha. é formada …
um silêncio desaba em mim. ao mesmo tempo, sinto euforia de véspera. os caminhos dos últimos meses foram pelas vielas onde se acendem os faróis do próprio íntimo, os sentimentos, as reações. andei de cabeça baixa porque é assim que se faz quando a visita é aos defeitos. vícios. pecados. é possível que reassuma postura altiva, mas só porque me resta muito pouco diante do …
aprendi com a Niu que existe uma coisa chamada ‘correição’. tem relação com formigas. elas reúnem exército, formam tropa, agrupam-se e marcham obstinadas. escolhem objetivo, que normalmente é um lugar. com o alvo na mira, não há obstáculos. entrarão e tratarão, piso ao teto, dos males e pragas que encontrarem pela frente. acabam com aranhas, insetos e todo o tipo de inutilidades que nos tiram …
Caiu uma árvore na pracinha. E as pessoas se assombraram e se aglomeraram em volta da árvore e disseram que poderia ter caído em cima de uma pessoa, mas que por sorte não caiu. E umas falaram que graças a Deus não caiu. Aí algumas pessoas contaram casos e falaram do absurdo de ter árvores velhas na praça, são as mesmas que criticaram a poda …
depois que roubaram meu carro, todas as vezes que vejo modelo semelhante fico procurando os detalhes que só o meu tinha, para ver se descubro o paradeiro. é quase uma obsessão. até nas ruas da Europa o cacoete me acompanhava. não tenho mais intenção em ocupar meu ex-carro, a não ser por motivo de venda, claro. mas me revolta que alguém tenha dedicado tempo, inteligência, …
pode ser que tenha sido aquele silêncio, grande e imenso, combinado com minha marcha em direção a lugar especial que me tenha despertado coisa nova. ou talvez apenas a rispidez daquele vilarejo belo e trancado nele mesmo, sem dizer um meio sorriso a quem é de fora. ou pode ter sido que o frio tenha promovido um curto circuito qualquer dentro de mim. não sei …
não tenho vontade de voltar para casa. mesmo. o frio, a crise, o medo e as ameaças europeias não são suficientes para mudarem meu humor a respeito do Brasil. a minha vontade é de me plantar aqui e comprar passagem de volta só para visitar alguns, ficar o tempo entre o amor e a saudade e retornar. sei que há problemas por aqui e eles …
tenho novo livro pronto. prontinho. coisa fofa, proposta cheia de estampas e texturas. tudo bem bonito. um tema que usei de subterfúgio para não me entregar a uma escrita maior que me assombra e me convida; me chama e me expulsa; me pega e me joga – tenho cá meus tribunais que acabam me impedindo de seguir. perdi o bonde da publicação de fim de …
não foi uma decisão engajada, politicamente pensada ou esteticamente avaliada. nos últimos tempos, tenho acordado com a ideia de que meus cabelos brancos tomarão toda juba. pronto. chega de hena, chega de disfarces, chega de tapar o sol com a peneira – ou os grisalhos com o castanho dourado. resolvi, e isso não quer dizer nada, que cada fio branco terá o respeito que merece …
é engraçado, faz um bom tempo que eu não tenho ideia de que dia do mês estou. não sei, simplesmente não sei. os dias vão passando e se perdendo na contagem. por mais que eu soubesse, por exemplo, que, sei lá, ontem foi dia sete, por ser data importante, hoje não reconheço o dia oito… não faço a mínima ideia de que dia é… recorro …