tombo no shopping

minha incapacidade de desfile é testada diariamente. na quina da cama, na ponta do armário, no buraco da calçada, no vão do meio-fio.
sou campeã em tombos, tropeços e esbarrões.
talvez eu seja uma alma de 1,60cm presa num corpo de 1,80cm, não sei.

pois bem, na noite de lançamento do meu livro, me arrumei toda bonitinha, saia e meia-calça, batom e rímel, cabelo e brincos. me ajeitei seguindo os apontamentos de minha mãe – menos o sapato de salto, porque tudo nessa vida tem limites.

a noite passou por mim. eu atravessei suas horas.
e tudo parecia harmônico. e tudo deu certo. e tudo foi bom.

quando estava indo embora, depois de ter conseguido me comportar direito nessa ocasião social tão cheia de medos prévios, deu-se o inesperado.
não sei se consigo explicar direito.
quando o relógio já tinha ultrapassado as 23 badaladas, hora que normalmente estou na cama e meus gestos não correspondem mais com o mundo prático e tátil, achei que podia continuar.
um drible a mais, como sempre.

não percebi que no meio do caminho havia uma muretinha, havia uma muretinha no meio do caminho. no giro do corpo, no olhar para o lado, no afã de falar e andar ao mesmo tempo, me estabaquei no chão do shopping.
não foi um tombinho, não foi qualquer coisa, não foi imperceptível.
um vexame que fez cavalheiros se preocuparem e damas levarem a mão à boca, ohhhh!
não consegui me levantar rapidamente porque fiquei perplexa em saber como minhas pernas ainda conseguem se esticar para o alto, a encompridar músculos e distender as relações nervosas entre meia calça e saia.

foi um vexame. uma vergonha que só não maior porque o público presente era delicado.

saldo: pernas roxas, cortes, dor na canela e uma busca pelas câmeras do shopping, porque preciso ver isso em outra perspectiva para ter certeza das leis da Física.

quer comentar? não se acanhe.

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