olho em volta e nem acredito no tanto de coisas inexplicáveis que acontecem. o tempo todo. todos os dias. sem trégua. tenho vontade de me afundar num choro infinito ou num pote de brigadeiro. obviamente nenhuma das medidas serviria pra alguma coisa, a não ser atrapalhar ainda mais minha vidinha, claro. não me resta muita coisa que seja diferente de um otimismo sem fundamento, um …
há coisa na vida que não se explica. as que eu vivo por esses dias, talvez Garcia Márquez tenha contado direitinho em seus relatos fantásticos sobre essa tão surpreendente fatia latina que recorta os rincões fronteiriços. Puerto Iguazu, argentino no mapa e inacreditável aos olhos, é lugar que eu não deveria tentar descrever. só mesmo essa vontade de dizer é maior que minha incapacidade narrativa, …
minha irmã achou melhor não me aventurar pelas ruas paraguaias com meus longos vestidos. compramos couraça apropriada e vestida com as roupas e as armas de Jorge, segui. seguimos. a guerra do Paraguai não é coisa fácil. lugar onde os fracos não têm vez, é preciso toda sobriedade de espírito para a luta. os infortúnios são muitos, falta banheiro, sobra gente, tem terra e água …
semana passada comprei um vasinho de lírios. não quis saber raça, preferência política, religião ou cor. comprei gordos e auspiciosos botões, promessas de beleza. pois hoje quando escorreguei os olhos na sala, as flores me disseram bom dia, se apresentaram e marcaram o ambiente com aquele perfume tão suave e envolvente, que a gente sempre reconhece. não sei se é por conta da minha inabilidade …
encontrei a solidão. e ela era sem cor e dura e forte. estendeu-me a mão, seca e áspera. convidou-me para dançar e sua música era suave e seus passos tranquilos e ela me fez flutuar… nos entendemos bem, formamos par: dupla inseparável, proteção mútua. eu sabia: ela não deixaria que a vida me distraísse, que o mundo girasse, que o corpo tivesse calafrios. e eu …
tem um prédio aqui perto de casa. é alto, mas está numa distância regulamentar, não me atrapalha a vista, nem o sol e nem o vento. elegante, simples, com janelões e sacadas que sugerem inveja. dia desses um apartamento foi posto à venda. nem me animei a sonhar, porque sei o meu tamanho. mas acompanhei quando a placa foi retirada e alguns dias depois quando …
sinto a despedida. o verão me acena seus últimos suspiros. essa virada de ciclo sempre me assusta e impressiona. a brisa fresquinha, o amanhecer a apontar 14 Célsius, a noite se apresentando no horário do dia. as folhas cairão, o sol se esconderá mais rápido. e, sei, sentirei a lembrança das tardes azuis a fazer fundo na casa de madeira da minha avó com a indestrutível …
para continuar a marcha de março marquei viagem. nota de ida, data de volta, destino e companhia. detalhes resolvidos: um, dois, três, quatro vestidos; todos igualmente longos, igualmente pretos, igualmente iguais, para não dar trabalho e também porque não tem coisa muito diferente no armário. mais que compromisso familiar, é coisa de necessidade de espírito. eu e minha irmã nunca viajamos juntas, unidas e isoladas …
cortei pedaço de mim fatia de prazer, a parte do amar cortei o que era sem fim. bamba, amputada, dolorida me despedaço pela rua suicídio com bala de festim. na despedida, o olhar do erro da vontade e do medo o desejo dos beijos de carmim. me reviro no sofrer na lembrança do sonho no trevo desfolhado do jardim. arranco imagens e me enterro o …
nasci no mês de março. último dia, primeiras horas, há muitos anos. não me lembro. de lá pra cá venho colecionando algumas coisas, perdendo outras. acho que estou no lucro, minha caminhada é das boas, faço parte de um time que tem um trevinho de quatro folhas no jardim. menina, pensava no século XXI como um tempo Jetsons. na minha cabeça, esteiras rolantes me levariam; …