revolução na área de serviço

por causa de minha incompetência doméstica fui vencida no combate da área de serviço. a rainha, poderosa e essencial, proclamou independência do próprio reino. abdicou. tratou de fincar bandeira em outro rincão.

sem habilidades de convencimento, não consegui segurar a máquina de lavar!

ergueu a cabeça, fechou a tampa e foi. como último discurso, me disse, olhos nos olhos, que já havia feito muito por mim, agora era o momento de difundir sua filosofia e serviços em outra área. convocou súditos para ser carregada e partiu. ganhou mundo. levou consigo mangueira e veda-rosca.

com a primeira batalha perdida veio a necessidade de estruturar planos, traçar estratégias, organizar informações.

resolvi enfrentar o problema. abri trincheiras entre a roupa suja, construí diques com pilhas de camisetas e estilingues a partir de alças de sutiãs. declarei ao tanque que apesar da falta de proteção da máquina de lavar ele não me venceria. sou uma guerreira. força, foco, domino a arte da guerra.

a área de serviço é um campo minado. torneira, tábua de lavar, balde, bacias… (todos unidos pela inveja dos súditos que viviam felizes sob o comando da máquina) não poupam armadilhas e não têm piedade de donas de casa feito eu, filhas da modernidade.

com avental-armadura no peito, tratei de fazer os primeiros avanços. tarefa primordial, agarrei sabão em barra na mão direita, com a esquerda a torneira. mostrei sagacidade na intenção de que a água invadisse o tanque. e assim, ocupada de leste a oeste, recebi o primeiro golpe: banho, água fria, transtorno.

não soube me recompor do revés e achei que era hora de unir forças. convoquei outras donas de casa para que em voto, livre e direto, me ajudassem eleger nova rainha. não houve campanha, apenas o chamamento de emergência. cada uma delas chegou com sua própria história, experiências, ensaios, tentativas, erros e acertos.

o que poderia ter sido decidido em primeiro turno, acabou apenas elegendo três fortes candidatas: as ainda consideradas novidade no mercado, Samsung e LG e a mais tradicional, Brastemp. parece que teremos uma longa campanha pela frente. os planos de governo não estão claros: lavar?, lavar e secar em corpo único?, lavar e secar com poder compartilhado entre duas máquinas?. cada uma trata da própria causa, sem considerar o que é melhor para a área de serviço como um todo. parece que nenhuma delas tem viés estadista, com pensamento a longo prazo para considerar exigências do momento, necessidades do presente e também o melhor para o futuro.

o drama da área de serviço prossegue. donas de casa estão unidas e atentas. o tanque treme, entendeu que não se estabelecerá governante, mas mesmo assim, aterroriza os dias intermináveis de chuva fina.

– homens estão se infiltrando entre as populares donas de casa para sugerir serviços externos, lavanderias, terceirização das responsabilidades domésticas. não conseguem aliados.

 

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