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com os pés no chão

Não sou do tipo que tem loucura por sapatos. Tenho muitos, não direi quantos, porque vai parecer que sou centopeia fora de controle na Barão de Teffé. Mas não sou do tipo que tem loucuras por sapatos, talvez do tipo que tem tempo para escrever sobre eles.   Todos os meus pares preenchem requisito básico: conforto. Nunca suportei nada que me aperte os pés, faça …

tempo

Não brinco com o tempo. Já sei como ele é: rápido no gatilho, traiçoeiro, não espera a gente contar até dez para puxar arma e disparar. Apesar de sua natureza ser assim, tão indomável, procuro tratá-lo bem, com carinhos, atenções, planejamentos. As vezes consigo enganá-lo e faço duas, três, quatro coisas numa vez só. Quando dá certo, comemoro. Quando ele descobre, me castiga, exige que …

incompetência

Eu queria muito escrever um poema de amor, que arrancasse suspiros do mais amargo dos corações, que fizesse o mais descrente dos homens sorrir.  Queria poder riscar o papel com um sentimento tão puro que ele escorresse molhado, suado, vibrante em letras roucas e voz trêmula. Queria poder dizer do tamanho do meu amor e da dor da minha saudade e que isso fosse tão …

fundas piscinas de ilusionismo… – mais nada

sou um tipo banal, corriqueiro. ordinária, entregue a pequenos prazeres. não penso em grandes conquistas, não almejo fama nem glórias. quando tinha idade de querer dominar o mundo, não levei muito jeito pro assunto e de derrota em derrota fui arrumando forma de não me contundir em cada nova empreitada. e essa maneira resultou em desistir das grandes capturas. virei uma simplória e meu prazer …

oração

Caí da cama, pulei cedo, porque a vida é curta e eu enfrento o frio. Percorrerei o dia inteiro que se apresenta com dignidade, com euforia de espírito e boa vontade com meus semelhantes. Só por hoje tentarei não fazer bobagens. E nesse dia, que começou tão antes, hei de trabalhar a terra, enxada nas mãos,  colheita de ontem, semeadura de amanhã. É possível que …

desde 1954

Estava sentada no Caruso, a espera de que a vida me fizesse carinho em forma de café e banoffee. Puxei livro, que é boa companhia para guloseimas ao mesmo tempo que mantém distante as conversas que não me interessam. Torta, moca, prosa, tempinho sem-vergonha lá fora. Não tinha jeito da vida ser melhor. Tão bom passar uns instantes num café madeirinha e saber desse prazer… …

dor elegante

  Aceito com obediência e conformismo inconteste alguns sistemas: o solar, o eleitoral, o nervoso, o decimal… Gosto dos cientistas. Eles ficam lá, lentes convergentes a ampliar pequenezas e nos provar por A mais B algumas coisas. Não discuto. Também confio nas minhas análises sem método, empiriquices que bordam minha vida e me desvendam caminhos. As vezes na mosca, noutras mira muito errada. Vou indo… …

sem filtro

Alguns gostam de vatapá, outros preferem passear em veleiros.   Estamos aqui reunidos no planeta azulzinho, a dividir o espaço, o tempo, a nos acotovelar por uma chance, por um momento.   Perambulamos todos com olhos no espelho, no da frente e no retrovisor. Desviamos ameaças e plantamos árvores.   As pirâmides continuam lá, erguidas, equilibradas e a água modifica os desenhos na areia da …

Primeiro Motivo da Rosa

Amanheci dentro de um dia perfeito. Quando cheguei na cozinha, a pia estava limpa, seca, vazia, o suco pronto, pão quentinho. Apertei o botão e Mozart, rápido mas não muito, tocou baixinho pra mim. Com os primeiros raios, veio o cão. Preguiçoso, deitou-se no tapete e encostou a cabeça no meu pé. Ficamos por ali, em silêncio, vendo o dia chegar, os barulhos anunciantes, o …

dos caminhos

Por conta de umas questões paralelas fui para um lado da cidade que não conheço direito. Para chegar, segui ao pé da letra o que riscou o mapa. Nenhuma rua a mais, nenhuma curva a menos. Sucesso. Na volta, decidi por minha conta e risco fazer caminho próprio. Ora! Nasci nessa cidade, cresci aqui e por aqui estou a tratar dos tempos grisalhos. Dona do …

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