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Dos sonhos de criança alguns ficaram, outros foram embora e boa parcela acabei por esquecer. Algumas coisas eu lembro bem: queria ser caminhoneira e queria ser carteira, sim, daquelas de uniforme amarelo e azul. Da minha pretensão de ganhar as estradas, sobrou a vontade de viagem, a necessidade de liberdade e o desejo de dobrar novas esquinas. As aspirações de carteira se transformaram em impulso …
Eu estudei no Colégio São José. Não fui santa, não fui bem comportada, não ouvi de cabeça baixa. Mas fui ótima aluna de notas e conteúdos. Dia desses encontrei um boletim que atestava o registro mais vil em Física: sete pontos no terceiro bimestre a manchar um documento que não conhecia nada abaixo de oito (falho sistema!, nunca fui digna de sete em Física, a …
Feijão com couve. Filhos e sábado. Casa e amigos. Cama e coberta. Abraço e beijo. Queijo e goiabada. Café e conversa. Calor e praia. Branco e preto. Verde e amarelo. Cachorro e grama. Estrelas e luneta. Poltrona e livro. Caderno e lápis. Computador e wi-fi. Cartola e Dona Zica. Morango e nata. Música e silêncio. Viagem e dinheiro. Carro e direção hidráulica. Banho e …
As vezes levanto sonhando. Tem manhãs que nem acordo. Às seis desperto, as sete caio, às oito tenho vontade de voltar. Me delicio com os dias de preguiça e as noites de grande disposição. De dia eu faço graça, à noite dou bandeira. Bobeira! Lençol fresquinho, coberta quente e travesseiro fofo são meu passaporte. Relógio é inferno. Inverno é verão e o escurinho cai bem …
eu sou feita de silêncio! falante, gosto de ficar quietinha. as palavras soltas, livres, aladas me jogam pra dentro do nada. e o nada é quieto. os olhos marejam, a garganta seca, os gestos ficam pequenos e a boca fala o que o coração nega. todos os meus silêncios dizem muita coisa. mais do que todas as minhas palavras. quando me meto …
Tempo atrás o diabo me visitou. Sedutor, tratou de fazer graça, jogar charme, preparar terreno. Trouxe flores, cantou a mais bonita das músicas, me tirou pra dançar. Preparou drinks, fez comidinhas e me desafiou para misterioso jogo. O fascínio desta visita é o perigo, o risco, a corda bamba. O diabo não gosta de certezas, não inspira confiança, emite prazo de validade para as …
Eu tenho muitos medos! Medo de aranha, do escuro e da falta de grana Medo de assalto, de tristeza sem fim e de lugares pequenos Tenho medo de ficar doente, de magoar pessoas, de engasgar Medo que me machuquem, de escorregar, de cortar o cabelo Tenho medo de multidões, de água gelada, de andar descalça… Tenho um milhão de medos, mas me acompanha, desde …
Aos quatro anos aprendi a amarrar meus cadarços. Minha vida mudou! Variações da mesma habilidade me servem até hoje para prender laço no cabelo, fechar cintura da saia, segurar biquíni, guardar o carregador do telefone, iniciar costura, fabricar penduricalhos, moldar fitas, ajeitar gravata, fabricar buquês, fingir de marinheiro, emendar corda bamba, dar nó em pingo d’água… O que eu ainda não sei …
As vezes fico escondida em casa. Aqui ninguém me acha. O cobertor é o manto da invisibilidade! Aprendi que quando a gente está muito triste, sem vontade de conversar, sem querer saber do mundo, é melhor se enfiar em casa. Porque ninguém tem muita paciência ou boa vontade com deprê alheia – há de se cuidar das próprias antes. Por isso, quando não …
As vezes me encaixo na frase de Vinícius de Moraes, “tenho tudo pra ser feliz, mas acontece que sou triste”. Em dias melhores, a alegria me invade. Vivo de acordo com a maré, deixo que os ventos soprem e já desisti de agarrar a vida e domá-la. Mas me seguro firme em minhas poucas certezas e só navego em mar transparente. Gosto das palavras, mas …