carta de saudade

Cris querida,

o tempo por aqui anda curto. para o amor, para as conversas, para a observação dos pássaros e pôr do sol. por causa de você, menina, ontem vi a lua. ainda de dia, ainda no azul; toda branquinha e quase inteira. um sopapo na cara dos fracos…
ando com vontade de conversar. queria uns papos leves, coisas de música e poesia, de praça e árvores, de crianças e viagens, de vinhos e comidinhas, de risadas e emoções boas. essas coisas de amizade num fim de tarde glorioso ou num almoço de sábado. essas coisas que a gente pode fazer e acaba não fazendo porque o relógio se apressa em dar voltas e voltas e voltas. queria que você estivesse aqui.

não tenho conversado com a turma, porque estou concentrada no trabalho.
vi a Etel um dia desses, num esforço lindo que a fez fingir que não estava com gripe e toda quebrada para nos encontrarmos no café da livraria no lançamento do Livro dos Novos (você viu, o Dudu está no livro; a Jessica tem conto, o Dé escreveu o prefácio). ela toda sorridente e brincalhona, com a mão estendida e o olhar amigo como sempre.
o Vicente, você sabe bem, está firme na luta pelo acredita ser o melhor, o melhor para todos. e fica doido e grita e esbraveja e se lasca todo pela democracia. prepara nova aventura do Brasileirão.
Suzie é música por todos os poros, suavidade e doçura. vez ou outra vejo suas fotos de avó e acho tão engraçado que ela, você, todas sejam avós. não consigo imaginá-las com mais de 20 anos, e acho que nisso tem muito dos rumos de nossas risadas, choros e conversas. somos todas meninas…
dia desses tentei um chope com Álvaro, ele estava ocupado, sei lá quantas pessoas dentro do estúdio. depois ele tentou um café com torta de banana, mas eu estava com os filhos. e seguimos em nosso desencontro habitual.
Jaime fez uma, duas músicas comigo. imagine que emprestou todo talento e prestígio aos meus versos mancos. tão bom ter gente generosa por perto.
escuto a Rogéria na rádio, que volta e meia manda aquela risada gostosa a me lembrar que as vezes é preciso esquecer.

comecei a lavar o cabelo com vinagre de maçã; nada de xampu, nada de condicionador e acho que só você pode entender isso sem zombaria. tenho tentado, todos os dias, começar regime. todos os dias fracasso, mas todos os dias recomeço. estou fumando mais, embora a vontade seja de diminuir.
num surto de loucura, às pressas, me arrisquei num ensaio fotográfico com o Victor Sálvaro (você o conhece?), curti. comprei desenho lindo do Foca Cruz para estampar a parede, mas ainda não tive tempo de emoldurar. inventei uma receita de cassoulet que caberia bem para nossos almoços.
segunda-feira fez um calorzinho gostoso e usei aquela sua blusinha branca de lese, sabe? preciso que o regime dê certo para o macacão de linho branco…
pela janela do quartinho vejo um azul bonito no céu, duas araucárias e algumas árvores que não sei o nome, um cachorro late na vizinhança, alguns passarinhos cantam e quando consigo abstrair o barulho da cidade parece que moro num bairro tranquilo com crianças na calçada. preparo novo livro – todas as inseguranças do mundo estão ao meu redor.

no mais, querida, sinto saudade e uma vontade verdadeira de te ver e saber de você.
beijo, beijo

cris

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