Sobre Curitiba Arquivo

Quantum – esperando caquis

às vezes é difícil saber que as coisas estão acontecendo.o gerúndio, este tempo leve e eterno, sem começo nem fim, que só está, um dia depois do outro; que desafia o que é passado, o que é futuro, que desafia o presente, embrulha o entendimento.o gerúndio prega peças. é zombeteiro. faz a gente falar coisas como metade do ano passou, já é natal, esta foi …

seguirei muda

uma vida inteira falando sozinha e nunca me importei. bem dentro, sempre soube que conversa é coisa para passarinhos que se cantam ou para outros bichos que precisam mesmo comunicar o perigo ou o amor. a gente que tem olhar, gesto, lágrimas e risos, para que precisa de palavras também? para que encher o mundo com sons que nem são exatamente os que queremos, os …

Laura and me

acompanho a natureza. todos os dias uma árvore me sorri com seus brotos e tronco que anunciam a nova estação. ela não quer nada de mim. não me pede rega nem atenção. palavra ou poda. não pede nada e vai florescendo, ignorando minha insistente presença matinal entupida de conversas.reconheço que sou o tormento da árvore e ainda assim teimo em lhe dar nome, lhe contar …

lareira

estou em outro lugar. uma caverna quente que resiste ao inverno de outro hemisfério.penso em minha sombra desenhada na parede como um quadro que vez ou outra se move lento e entupido de uma sensualidade que só existe na imagem. tenho frio. tenho calor. conto os dias e leio textos que me interessam mas não me permitem, não me pertencem, não me deixam falar. só …

solstício

não sabia direito o que fazer com o dia mais longo do ano. acordei cinco e pouco, como sempre. repeti o hábito de ficar na cama até umas seis e meia. sete eu estava na sacada tomando café e pensando que até sábado eu não sabia que o natal era nessa semana. fui tentada a falar para mim mesma que este ano voou, depois lembrei …

minhas memórias que não são minhas

uma vez li um artigo que dizia ser possível que traços de memória fossem passados pelo código genético. pais, avós, bisavós e toda a imensa árvore poderiam deixar um fio do que armazenaram numas ligações neurais da nossa composição.não lembro dos detalhes, só que essas recordações não eram nítidas, transitavam no campo das sensações, tipo um déjà-vu muito abstrato. gostei de pensar que os baús …

pedaços de memórias

eu só abri uma porta do armário. só isso. sem dó, sem compaixão, uma multidão pulou em cima de mim. as gentes do meu passado vieram falar comigo e se espalhar pelo chão do meu escritório. caixas, cartas, cartões, cadernos, cadernetas. diários. o que fazer com esses quilômetros de linhas que falam de mim? quantas árvores foram sepultadas para que eu pudesse conservar no amarelado …

pensamentos matinais

tinha umas coisas para fazer muito cedo, como por exemplo, olhar pro teto, me virar sozinha na cama e pensar no futuro. estava meio que fazendo tudo isso junto quando o sol começou a nascer. acho tão lindo dizer que o sol nasce, porque o sol nunca morre. ele se põe. ele desce. ele vai embora. mas não morre. agoniza entre azuis, laranjas, lilases e …

ipês, o final do inverno

tenho essas histórias, que não dizem nada demais. mas são minhas. e gosto de lembrá-las. são enredos de final de inverno, que ficaram para sempre em mim. teve um tempo que o Dé morava numa rua cheia de ipês. rosas. muita coisa era bonita naquela época: as conversas do meu pai e do meu filho movidas a silêncios; a maneira como eu era bem-vinda; os …

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