drama na área de serviço – 2

o carnaval na área de serviço começou ontem. e não é que um cano tomado pelo espírito da micareta quis se vestir com toda a liberdade do mundo e tratou de se rebelar?

água. muita água! e ela também tinha vontade de sambar: em jatos incríveis atingiu o céu da lavanderia e o rosto do meu pai e abraçou o Dé do dedinho ao último fio de cabelo. depois, fez volume no chão, deu trabalho ao rodo, ao pano, à dona de casa.

quanto mais os humanos trabalhavam para conter cano e água, mais água e cano mostravam suas vontades.

tiveram a conivência do registro. imóvel, impassível ele tratou de, caolho, espiar tudo como quem tem o controle da situação e nenhuma vontade de colaborar.

no começo achávamos que era coisa particular contra nós, uma espécie de inversão de papeis para mostrar força. mas a dupla tratou de revelar às roupas, ao piso da cozinha, ao chão sagrado do quartinho, teto, paredes, azulejos o poder da união. deram as cartas, sem negociação.

hora e meia depois do exaustivo espetáculo, um braço forte chegou por aqui. sem piedade, sem considerações, sem pensar em motivações e determinado a devolver à quarta-feira de cinzas o respeito do sossego, estrangulou o registro. girou-o tantas vezes quanto pode para o lado direito. o registro, mesmo sem ter promovido ou aproveitado a festa, sofreu solitário as consequências. porque tudo na vida é assim, se você aceita calado os desmandos e loucuras alheias, está concordando. consentir é também promover.

quer comentar? não se acanhe.

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