escrever caquis

escrever, essa coisa maluca que me faz querer estar só, revirando meus baús e tribunais, introspecta, inventando palavras, me recolhendo em lugares que jamais serão acessados para depois ficar feito doida, procurando pessoas, querendo diálogo, suplicando por trocas…
escrever é desequilíbrio, é este andar desengonçado pela vida, é não conseguir tirar um caqui do pé sem pedir licença, sem pedir desculpa, sem imaginar quantas pessoas no mundo gostam dessa fruta e quantas (quantas?) estão repetindo o mesmo gesto que eu.
tirar o caqui da árvore é pensar no primitivo que deu a primeira dentada. morder o caqui maduro é saber que sumo, polpa e cor formam o conjunto mais sensual de toda a natureza.
e as folhas? folhas no chão. folhas nos galhos. folhas ao vento…
escrever é não poder simplesmente colher e comer caquis. ou não colher e não come-los.
cada passo é narrado com tanto vigor e tão cheio de detalhe que na primeira meia hora do dia, já não há forças para continuar vivendo e mesmo assim continua-se procurando por metáfora e pensando que se encontra-la perfeita, moldada, acabada, tudo estará resolvido.
escrever é saber que nada será resolvido.
é sofrer.
se não for sofrer, não é nada.

quer comentar? não se acanhe.

Pin It on Pinterest