marido de aluguel

tenho um marido. ele é temporário, aparece e desaparece num estalar de dedos. cobra pelas visitas. quem me apresentou o dito cujo, em outros carnavais, foi a Renata, que também aproveita de seus serviços.

nessa semana que passou, decerto inspirada pelas obras no prédio, fiz uma lista imensa de pequenas coisas que precisavam de atenção aqui em casa. a vistoria começou na área de serviço e terminou no meu banheiro. norte a sul, todos os cômodos cobertos.

tudo isso é muito chato, mas a casa precisa de manutenção. minhas gambiarras chegaram ao limite. e prefiro contratar mão de obra do que atormentar os amigos ou, pior, pedir ao meu pai que ceda seus conhecimentos sem fazer observações a respeito de minhas desorganizações.

o tal marido me deixou a esperar uma hora e meia e quando eu já estava a trinta segundos de desistir, chegou. homens! maleta nas mãos, pegou a lista e do primeiro ao último item perguntas e comentários: desde quando isso está a acontecer? / você nunca fecha o registro? / essa fita crepe, por que você a colocou? / não funciona porque a lâmpada está queimada.

disse que precisava sair, comprar peças. saiu. pela demora, fiquei a imaginá-lo no bar, sinuca e mulheres. voltou com a cara mais lavada do mundo, com uma desculpa qualquer sobre a rebimboca da parafuseta, o que não entendi, mas considerei insultante.

o atraso, a cobrança, as exigências, as críticas veladas… eu ia me desculpando e respondendo tudo como se fosse uma submissa esposa da década de 40. em determinado momento recuperei a lucidez, não há motivos para uma DR de verdade com um marido de aluguel, decretei: faça o que tem que ser feito. veio a conta. mais alta do que eu estava esperando, porque, como sempre, não expliquei direito sobre minhas limitações financeiras.

meu histórico aponta, não levo jeito com maridos, nem os de aluguel.

quer comentar? não se acanhe.

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