o monstro que mora em mim

não me movimento mais durante discussões. não porque me falte argumentos ou por preguiça de conta-los. acontece uma coisa comigo durante debates que procuro evitar.

um monstro feio, louco de pedra, mora em mim. eu o nino com algumas delicadezas, ele adormece e fica lá, quietinho, quase morto, como se não existisse.
mas quando provocado, quando tirado de suas profundezas, ele explode indomável, furioso, inconformado.
despreza civilidades e ataca.
tenho medo dele.

o estopim para sua cólera de mil gigantes é quando falo e não sou entendida ou quando dizem que fiz ou falei coisa que não falei nem fiz.
o valentão salta em minha defesa, sangue nos olhos, atropela quem estiver pela frente, grita, deixa tudo em escombros.

é difícil ser portadora dessa ignorância.

me sobra poder de silêncio. recolho artilharia e fico quieta, monstrinho em repouso.
perco. perco muito, porque neste processo as ideias que me compõem, minhas opiniões e fatos que sei, as injustiças que ouço e acumulo, me sufocam.
eu me sinto menor, idiota, submissa.

mas ainda assim, apesar de tudo, prefiro.
vou transformando as controvérsias numa solidão de pensamentos e anotações sem fim. nesse calar-se, personagens me provocam e fazem reuniões infinitas em minha cabeça e me dizem que, pelo menos, eu posso chorar.
e choro.
e a culpa é só minha.

quer comentar? não se acanhe.

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