tenho inimigos. não muitos. os mais nocivos moram aqui em casa e por algum motivo que não sei explicar, os cultivo. o primeiro deles chama-se internet banda larga, com tentativa de performance wi-fi. há anos me acompanha. chegou com a promessa de me facilitar a vida. seduzida, deixei que entrasse. feito noiva apaixonada, confiei no que me foi dito. depois do casamento, assumi papel de …
escrevo pelos cotovelos. todos os dias. o tempo todo. até quando não estou a escrever, estou a escrever. meu pensamento é moldado para a escrita. uma narrativa eterna que fica rondando minha cabeça, a computar as coisas, as situações, as pessoas. as vezes é bom. as vezes é enlouquecedor. as vezes não é nada. o que fica registrado neste jardim azul e branco é uma …
os preparativos para o 1º de maio no meio do caminho. a festa do trabalhador, que reúne música ruim, sindicalista em protesto e sorteio de brindes que disfarçam a ruína diária ou acariciam a luta individual. tudo lá, meio espalhado e meio a se fazer de irônico cenário para cenas difíceis de encarar. há coisas muitas nessa história toda e elas não se resumem nos …
tenho ideias madrugueiras chegam como se fossem o último ônibus me apressam a sair da cama a largar o sono a temperar a alma. batucam em minha cabeça a força de mil tambores não me deixam dormir acendem chama são meus donos me tiram a calma. se cedo e levanto viro costureira que tece ponto a ponto pano que não termina nem começa coisas de …
“porque na vida há mais medos que perigos” (Mia Couto) não sou um tipo previdente. mesmo. basta olhar minha vida: soluções imediatas, tudo de atropelo, a curto prazo, o dia de hoje. há problemas: não tenho casa própria nem reservas para os tempos difíceis, não programo viagem, não comecei reposição hormonal no tempo certo… as vezes é um tiquinho difícil viver como se não houvesse …
acho que ninguém sabe ao certo sobre o amor. as vezes ele parece com um raio de sol que inunda a sala e ilumina corpos. as vezes se transforma em saudade doída; se mostra em todos os lugares menos ao seu lado, onde você pode repousar a cabeça e esquecer do mundo. o amor consegue também vestir as roupas das incertezas e soprar insegurança e …
gosto de pensar que um texto acontece a partir da amizade, bom senso, tolerância e complementaridade de alguns aspectos. uma palavra pertinho da outra a fofocar sonoridade e sentido forma grande corrente; elas, as palavras, são solidárias e dependentes, se precisam, se amam e se agarram com paixão. frase. as frases têm um tiquinho de soberba, se declaram donas das palavras. as prendem, limitam, e …
tenho a sorte da maternidade. dois filhos, guri e guria. duas idades, 22 e 14. adoro-os e por eles já fiz muita coisa. faço. sempre farei. e isso não tem nada de mais nem de inédito nem de glorioso, sou mãe e é o que cabe a todas e a cada uma… não facilito, me mantenho atenta e forte no meu papel. não quero trocar …
cutuquei a Musa. pedi que ela voltasse a me fazer companhia nesses dias áridos. ela me vira as costas, me castiga. silêncio de mil textos. mostro a língua pra Musa, dou de ombros. tenho companhia no blog e recebi sugestões. várias. assuntos que começam em mim e terminam no mundo. ou vice-versa, não sei bem. trato por ordem de chegada. e me desculpo por antecedência …
quando declarei independência dos meus pais, ainda era muito menina. mas queria saber das minhas próprias decisões, trilhar caminho, tratar da vida. fiz isso em todos os sentidos. o mais gritante para todos foi o financeiro. guria que vivia com as benesses da mesada no corredor calmo e estruturado do Batel, fui para Vila Ouro Verde, uma favela lá no Uberaba com todos os problemas …