pequenos prazeres Arquivo
escrevo. em algum momento achei que era essa a minha arma para mudar o mundo. ao perceber o tamanho da soberba e o nível de competência, desisti. continuei a escrever. pensei uma vez que era para explicar o mundo. mas compreendi que não tenho verdades absolutas nem conhecimentos suficientes que digam sobre a existência, recuei. ainda assim não parei. escrever me refresca a alma. é …
amanhecer em Antonina é como despencar do sonho para uma realidade onírica. tudo passa de um jeito diferente e eu reafirmo a certeza de que a vida é mais, muito mais, da que alcança meu cotidiano de cidade grande. acho graça em ouvir galos preguiçosos que cantam para a chegada do dia. são expertos, esperam que o sol esteja alto no céu para começar a …
Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar. Júlio Cortázar animada e um pouco tensa com algumas providências, faço as malas. próxima parada Buenos Aires. dessa vez, viajo com minhas meninas. Lívia e Jéssica, uma em cada mão, para se espantar comigo com o que viveremos durante os próximos dias. é óbvio que andar pelo mundo é das coisas que mais …
estava aqui a fazer contas. não sou nada competente com grana. quando não estou na pindaíba de vender o almoço para comprar o jantar, faço as refeições em restaurantes caros sem me preocupar com o amanhã. jogo no time do tudo ou nada. nada. de susto em susto, comecei a ficar aflita em ser do jeito que eu sou. resolvi fazer umas mudanças. cortar zeros …
março, Paris. sentadinha no metrô indo pra Gare Lyon para pegar trem para Zurique a falar pelos cotovelos com Beatriz, mochila no chão, cachecol no colo. não via muita coisa além das pernas e bolsas das pessoas que estavam em pé na minha frente. mas volta e meia um friso se abria e de relance sabia de um homem sentado a uns três metros, frente …
O sono é como uma outra casa que poderíamos ter, e onde, deixando a nossa, iríamos dormir. Marcel Proust cheguei em casa segunda-feira pela manhã. as deploráveis condições não foram mais nem menos do que em outra situação de viagem longa. fechar malas, carregar malas, espera de aeroporto, medo de morrer no meio do oceano, posição imutável dentro de avião, filas, recuperação de bagagem, banheiros …
gosto de imaginar as pessoas. suas famílias, hábitos, comportamento, problemas, alegrias, soluções. uma sacola no metrô é pano pra muita manga. a conversa na mesa ao lado, as compras no carrinho do mercado, posição na fila do banco, número de papéis dentro da carteira. tudo é primeira pista para um vasto rio de fantasias que navego muda e em segredo sobre a vida alheia. hoje, …
não tenho endereços em linha reta. quando estou a andar, sempre prefiro fazer o caminho mais bonito, mesmo que isso multiplique quarteirões. a beleza está solta por aí e colocá-la como integrante nos prazeres cotidianos é enriquecer a vida. fora de casa, em viagem, essa atitude é potencializada. parece que todos os sentidos estão trabalhando com mais força. detalhes mínimos de portas, história contada em …
esperava encontrar um rosto mais sincero, mais simpático, com os olhos um pouco arqueados e algumas rugas de um sofrimento existencial. acho que esperava um pouco mais de espelho. me arrependi de ter procurado foto na internet. quase não tive jeito de continuar a ler, porque aqueles olhos de gato, tão longe dos afetos que eu encontrava em sua escrita mansa, me tiraram a sinceridade …
tenho uns problemas quando fico nervosa. ou fico muda, estática, com o olhar parado num eterno flerte com meu pé esquerdo ou falo sem parar, qualquer coisa, principalmente aquelas que não devo. por causa da minha irmã, fui convidada para bate-papo com o Jaime Lerner no sábado passado, 27. público, microfone, câmera, perguntas, tudo que me apavora. aceitei porque tenho cá minhas vontades de superação …