pequenos prazeres Arquivo

diante do Bonfim

gosto da onda baiana. me alegra o ritmo da fala, o olhar de malícia, os gestos que dizem mais. sobretudo, me causa muito entusiasmo esse viver que parte da experiência do prazer. o contrário de onde eu vim, em que o prazer é consequência de muita penitência prévia. a experiência de estar bem acima de tudo, de não negar o júbilo nunca, não é tarefa …

resistência

querido sono, este bilhete é pra você. confesso: meu corpo é seu. sinto-o a caminhar em volta de mim, me contornar os ombros, acariciar meus braços, beijar meus olhos. sei que está por aqui. escuto sua voz de sereia. percebo, um a um, todos os seus truques: você me faz olhar para cama e reconhecer, à distância, a textura felpuda e macia do cobertorzinho azul; …

a fria

sou curitibana e gosto de falar do tempo. não sinto problema nessa conversa repetitiva. gosto. é um dos trunfos de quem nasce por aqui. muito calor, muito frio, muita chuva, a geada, e aquele vento, o aeroporto fechado, o céu azul, o formato das nuvens, a imprecisão do Instituto. na sala da minha vó tinha uma casinha daquelas em que um homem e uma mulher …

blim blom

namorar é um jeito de transbordar. é derrubar por cima do copo, por baixo da roupa, por dentro do corpo as práticas do amor. o namoro tem caprichos, urgências, desejos, eternidades. tem as temperaturas do verão dentro do quarto e os arrepios dos pelos em pico no beijo de despedida. há mimos, caminhos, nuances, histórias e confissões. os dedos dos últimos românticos se entrelaçam em …

dos dias inesquecíveis da minha vida

há anos fui escalada para entrevistar Maurício Einhorn. pernas tremeram, o coração disparou, fiquei, comum em minhas ansiedades nervosas, gaga. eu era fã do Einhorn. e é difícil manter a espinha ereta diante do ídolo. aliás, nenhuma fã deveria ter obrigações profissionais com o ídolo. para minimizar as possibilidades de vexame, pedi ao Silvio, querido Silvio, que me ajudasse, que fosse comigo e me segurasse …

magneto

de um tempo pra cá comecei a colecionar ímãs de geladeira. não de qualquer tipo, não de qualquer tema. lugares do mundo, esse é o argumento do que enfeita a lateral da gigante da cozinha. as cidades onde meus olhos descansaram e se alimentaram por algum tempo. gosto de as vezes sentar na banqueta e apreciar a vista. é uma imensidão bem aqui, diante dos …

na boca da noite

do lado esquerdo de onde estou, que não sei falar na precisão dos cardeais, faz uma noite muito negra, cravejada de diamantes celestes. agora pouco, um se jogou suicida. não tive tempo de fazer pedido, aquele que a gente guarda para esse tipo de momento. de qualquer maneira, uma estrela cadente deve ser indiferente o bastante para que meus anseios continuem. faz frio e o …

coroa e cara – na casa dos 40 anos

“Os 40 anos são uma idade terrível. É a idade em que nos tornamos naquilo que somos.” (Charles Péguy) pergunto, você sabe o que é elipse? procure aí na gramática mais próxima e siga comigo. “a vida começa aos quarenta”. sim, começa. a piorar, a degringolar, a descer ladeira. normalmente as pessoas preferem não tascar o que falta nessa frase porque é muita decadência num …

abre os teus braços, meu irmão, deixa cair

“porque na vida há mais medos que perigos” (Mia Couto) não sou um tipo previdente. mesmo. basta olhar minha vida: soluções imediatas, tudo de atropelo, a curto prazo, o dia de hoje. há problemas: não tenho casa própria nem reservas para os tempos difíceis, não programo viagem, não comecei reposição hormonal no tempo certo… as vezes é um tiquinho difícil viver como se não houvesse …

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