Sobre Curitiba Arquivo

a fria

sou curitibana e gosto de falar do tempo. não sinto problema nessa conversa repetitiva. gosto. é um dos trunfos de quem nasce por aqui. muito calor, muito frio, muita chuva, a geada, e aquele vento, o aeroporto fechado, o céu azul, o formato das nuvens, a imprecisão do Instituto. na sala da minha vó tinha uma casinha daquelas em que um homem e uma mulher …

essa cidade me atormenta

carrego-a comigo em todos os lugares em que passo. quando saio, meu sotaque se acentua; minhas tintas ficam mais fortes; tenho orgulho e contradições a respeito das araucárias – somos isso, mas não só isso; falo de clima e parques, histórias e teatros, músicos e escritores, avenidas e bosques. viro guardiã, protetora, assumo todos os valores e até umas coisas meio positivistas despencam em mim, …

quase noite de verão

adoro piquenique. nunca faço. me dá preguiça. muita mão de obra: reunir coisas, preparar comidinhas, encontrar fórmula fácil para deixar a bebida gelada, ter toalha xadrez. escolher um lugar também não é tarefa leve. não pode ter formigas, mosquitos, abelhas ou qualquer coisa que voe, ande ou se arraste. nem gente barulhenta, xereta, que goste de conversar por perto. só mesmo curitibanos da década de …

leque, palavra engraçada

finalmente aconteceu de eu ter um leque. ando, pra cima e pra baixo, a me abanar. não com a elegância das europeias do século XVII, mas esbaforida pelo calorão das estações, do ano e da idade. é divertido ter um leque. nesse momento da vida, não há acontecimento em que ele não seja figurino obrigatório. o lance de tentar afastar as quenturas internas e externas …

pessimismo

Penso na frase adaptada de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. E ao recorrer ao poeta, um vazio estranho me toma. Fico triste pela humanidade, por esse vendaval de ocorrências difíceis de pensar, quiçá de superar. Me vejo adolescente, a achar que tenho que mudar …

foi bonita a festa, pá!, fiquei contente

nessa semana teve inauguração de exposição no MON. Jaime Lerner e seus 50 anos de arquitetura, de criações. entre tantos feitos (que melhoraram a vida de gente que nem sabe de sua mão em suas rotinas), lançamento de livro.     trabalhei no livro. com felicidade e cuidado fui ouvinte e leitora de Lerner em histórias infinitas, suas viagens sentimentais, confissões de amor e respeito …

são coisas nossas

depois de longa temporada sem tirar o nariz de casa, saí. ainda bem!  o Paiol estava apinhado de gente. escadas, cadeiras atrás do palco, gargarejo, última fila, tudo tomado.  já tinha visto o espetáculo Noël algumas primaveras atrás, acho que em 2006 na Reitoria. lembro bem que gostei, me diverti, ri. não cantei porque cantar só em casa, ninguém tem nada com isso – cometo …

no privacy

pode ser que eu esteja enganada, até é bem provável se considerar minha crônica burrice a respeito de tudo que anda, voa ou se arrasta, mas tenho a impressão, desde sábado à noite, que um vizinho me espia.    o lance começou quando eu lia na poltrona da sala. era noite e por conta de um ventinho perturbador levantei para fechar a janela. como de costume …

deveres e direitos

cumpri com o dever, exerci o direito. passei na zona, conversei com meus simpáticos e divertidos mesários. rimos e batemos papo rápido sobre chatices e coisas legais.  nos despedimos com o compromisso de nos vermos no dia 26.    três da tarde. fome. da urna direto para o café. me sentei sozinha e sozinha escolhi meu almoço.  comi acompanhada do Sir Conan Doyle que, acidentalmente …

numa folha qualquer

Tirei da gaiolinha lápis, gizes, tintas. Todas as cores libertadas. E todas as disposições para usá-las. Saquei as algemas do bloquinho de canson que guardo há muito e que agora é manchado pela pátina do tempo, amarelado pelos anos de gaveta. Abri bem as janelas, escancarei as cortinas, afastei os móveis. Com os ventos a circular, espalhei material em cima da mesa. Escolhi música de …

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