poesia Arquivo
apesar de tudo, estou aqui as notícias do jornal o desamor o desencontro as fotos antigas as lembranças de outras épocas e estou aqui os acidentes as bombas a fome a seca a miséria e estou aqui os grilos os astros as telenovelas a desistência os cabelos brancos e estou aqui a insônia os óculos de sol a chuva a monotonia a solidão e estou …
tenho ideias madrugueiras chegam como se fossem o último ônibus me apressam a sair da cama a largar o sono a temperar a alma. batucam em minha cabeça a força de mil tambores não me deixam dormir acendem chama são meus donos me tiram a calma. se cedo e levanto viro costureira que tece ponto a ponto pano que não termina nem começa coisas de …
eu falo de amor em outra língua as vezes ocupo olhos para ouvir uso as mãos, sei pelo cheiro e declaro na canção eu trato do amor no avesso no inverso, no contrário o oposto que é meu reverso a imperfeição de mim no descompasso, converso eu caminho pelo amor como quem anda ou quem corre melhor, quem para e no beijo morre eu sei …
todas as palavras do mundo, as promessas e quase todas as brigas. todos os sofrimentos as alegrias, e tudo aquilo que quero que me digas. todo o encantamento, o barulho, o borbulho e tudo que a alma investiga. toda a maldade, o perdão, e toda a fadiga. todo o carinho, a raiva, o amor e tudo que a vida obriga. todo som, o canto e …
tenho vontade de escrever uma carta de mil linhas. e que nela os arrepios da pele, a boca seca, o tremor das mãos, as vontades, os receios e tudo aquilo que me percorre se transformasse em palavras. e cada palavra tivesse o poder da comunicação precisa, linha reta sem sinônimos ou mudança de interpretação. nessa carta, e só nela, eu usaria palavras sagradas, como sagrado, …
uma joaninha que pousa em folha ou um jogo de xícara e pires uma mulher que entra no mar ou um envelope vazio uma taça, um vinho e um saca-rolha ou uma ilha pra cá do arco-íris como uma tarde de frio ou um vaso de cristal uma bola de sabão, um balão ou um longo e agudo assobio um sol depois do vendaval ou …
cortei pedaço de mim fatia de prazer, a parte do amar cortei o que era sem fim. bamba, amputada, dolorida me despedaço pela rua suicídio com bala de festim. na despedida, o olhar do erro da vontade e do medo o desejo dos beijos de carmim. me reviro no sofrer na lembrança do sonho no trevo desfolhado do jardim. arranco imagens e me enterro o …
minhas malas estão prontas sei que não voltarei mais nunca mais. arrumei tudo, shampoo, escova e tamanco aquele vestido de borboletas e a bolsa azul. etiquetei a bagagem meu nome, meu sangue toda minha história e dois cadeados três cartas de lembrança e o velho anel. pesam muito minhas malas a vida inteira ali dentro mais a saia reta e o scarpin …
do amor eterno só posso provar que meu amor é eterno depois do fim do fim de mim antes disso hei de amar-te todos os dias todas as horas num ciclo que se renova a cada minuto de sua dúvida e na prova de cada segundo de meu amor quando passo as mãos em teus cabelos quando te sorrio ao telefone quando te beijo …
teve uma época da minha vida que eu era louca por rimas, riminhas, podiam ser pobres, não obedecer métrica, não formar sentido, não comunicar com exatidão, não ter ritmo adequado. mas eu pensava em rimas. ainda bem!, isso passou. hoje quando vou construir alguma coisa e sinto que há necessidade de empilhar as palavras com alguma sonoridade que as combinem, penso mil vezes e se …