Sobre Curitiba Arquivo

atrás do silêncio

contar histórias é o que os escritores fazem. marcam a existência a registrar a vida deste e de outros tempos para o presente e o futuro.  acho isso bonito e generoso.  a cadeia de palavras enfileiradas nos acontecimentos, reais ou imaginários, relatam dores, tristezas, dificuldade. relatam também alegrias, descobertas, mansidões.  um escritor de verdade só sabe cavar imensos buracos em sua alma atrás de mais …

onze horas

retorno a mimfica para trás a temporadade olhos extensos, preocupações alheias,taças ao alto e farelos de frutas solitárias. volto ao egoístico excêntricoao centro, ao umbigoo meio, a campainha.na memória, os dias que não são mais,as alfaces lavadas,a divisão do pão,o guardanapo azul.  deixo preso no calendário o cheiro de jasmim,o apito da chaleira, as aquarelas,nanquim,todas as chansonse esta casa que nunca foi minha. esqueço as memórias,rasgo as cartas,picoto todas …

redemoinho

na ponta do lápis reescrevo os dias. tentativa inútil e incessante de remontar a história. pequenas notas, palavras soltas, frases perdidas, anotações nas margens, tudo a serviço das memórias que devem ser varridas para fora. escrever é o jeito de arrancar esses pensamentos flutuantes que formam redemoinho sufocante. e é o paradoxo, fixa para sempre cada palavra que representa meu naufrágio. percebo na composição do …

riminhas

pelo chão poesias que foram minhasentregues, assim, ao acasodos dias,situações,bocas,das linhas. esparramadas no papel todas as vinhasescritas, assim, no descasoo passado,colisões ocastodas minhas. jogadas no túnel de mentirascada uma das palavrasescritas,faladas,pensadas,sozinhas.

minhas amígdalas e eu

todo cérebro de vertebrado tem dois pequenos grãos que levam o repetitivo nome de amígdalas. não são aquelas do pescoço.as amígdalas, que oportunamente são anagrama de amigas, têm a importante função de alerta, são a semente do medo, do susto, da vigília. são elas que gritam eufóricas: cuidado, meu bem, há perigo na esquina. minhas amígdalas brotaram.passaram daquele embrião camarada para uma poderosa árvore que sombreia …

bilhete de suicídio

penso na última letra. na zeta de minha vida, aquela que encerrará um ciclo que não teve motivo de início e da mesma forma se despedirá solitário e caído sem alterar o curso dos homens. a última carta garantirá que terminei a rotação dentro da escrita. mesmo que ela seja assim, modo particular, com destinatários muito íntimos e que já não precisarão de minhas derradeiras palavras. nessa …

a crônica e o verso

por um tipo de comodidade e jeito natural do pensamento tratei de me colocar no lugar de cronista. não que eu me considere uma expert no assunto ou alguém que pode tratar do tema com o queixo na linha do horizonte. me debato muito ao ler algumas coisas e tenho vontade de rasgar o computador em mil pedaços e desligar qualquer folha em branco que …

retiro

saio do mundo e me tranco em casa,paredes brancasteto branco,início do retiro.aguardo pelo diaque o mar vire sertãoe caia uma noiteescura como sempreestrelada como nunca.sentada, poltrona branca,espero pelo juízo final,piedoso, contemporâneoquase religiosoque, provável, amanhã. tiro tudo do quartoos móveisas coresos quadros,jogo fora todos os sapatose os casacos que ainda teimamna cor azul.remonto os segredos sem imagense sufoco pérolas, esmeraldas e rubisem caixas de veludopara que nunca …

embarcações

me equilibro nessa ponte que flutua no mar das ilusões caminho um pé, outro pé, marcha vagarosa cuidado!, alguém grita – alguém sempre grita. no grito, o susto a queda, a dor. flutuo nesse mar que equilibra ponte de condões respiro um gemido, mais outro, e alguém suspira, alguém vive alguém morre alguém aprende a falar chinês. caminho por esses condões que desafiam pontes e …

mensagens para o futuro

faz muito tempo que iniciei o hábito de escrever cartas para o futuro. de mim para mim. escrevo para continuar dentro de mim mesma sem enlouquecer com a solidão. escrevo porque tenho coisas a dizer. escrevo porque é a única forma de continuar.minhas cartas são os bonecos de neve que construo da matéria que ainda continua em volta. são o salto na piscina que espalha a …

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