Sobre Curitiba Arquivo

na rodoviária

sentada na rodoviária. uma moça, mais ou menos 40 anos (sim, isso pra mim é moça): você vai ficar sentada aqui muito tempo? não entendi a pergunta, mas respondi que sim. quando não entendo as coisas direito sempre respondo que sim. e ela: você pode cuidar das minhas coisas para eu ir ao banheiro? com minha afirmação, porque não sabia o que responder, largou uma …

a queda

sou estabanada. desde sempre. tropeço, esbarro, derrubo. até hoje não consegui identificar se é um problema de noção corporal ou uma coisa que vive desligada porque me distraio olhando o mundo e esqueço de prestar atenção nos detalhes ordinários. aos 15 anos, quebrei meu tornozelo. não foi culpa minha. saltei de paraquedas e tudo tinha dado certo, mas quando estava chegando no chão, o vento …

caminhada no parque

tenho ido caminhar no parque. de manhã. bem cedo. gosto bastante, me sinto saudável e atleta. enfio os fones de ouvido, encho os pulmões de ar e me jogo na pista, passadas largas, ligeiras e ritmo constante. fico orgulhosa da desportista que mora em mim e, finalmente, resolveu se apresentar para o combate. em alguns dias consegui observar uma certa hierarquia nos espaços. por partes. …

presa no elevador

não vi a vida passar na minha cabeça como num filme. não consegui pensar nos filhos. não lamentei a esperança do porvir. fiquei num vazio sem passado e sem futuro. presa num presente, num tempo indefinível em que me olhava descabelada no espelho a achar que ia morrer. depois de uma dezena de solavancos, o elevador parou. pernas bambas, fui inundada por uma onda de …

finanças, striptease e terapia

fui criada numa família em que ninguém falava muito de dinheiro. exceção para dar uma reclamada básica do preço das coisas ou uma sugestão de economia em alguns itens. acho verdadeiro afirmar que meus pais não tinham problemas de grana. a vida era diferente do que é hoje. os presentes tinham data determinada para acontecer. ida aos restaurantes também. refrigerante só em dia de festa. …

exercício de escrita no hospital

é madrugada e estou na emergência de um hospital. longos corredores, faixa pintada no chão e silêncio de uma ala inabitada me fazem pensar em coisas. às vezes penso em algumas cores também. mas o que me ocupa mesmo são as coisas. embora sejam concretas, chegam de uma forma muito divagante se penso numa cadeira, por exemplo, ela flutua, abstrata e um pouco azulada no …

festa imodesta

não poderia ter acontecido em outro lugar, em outro dia, com outras companhias. não dava para ser diferente. até eu, que nego o destino e acho que cavo dia após dia minhas escolhas, tenho que dar a mão à palmatória e me redimir desse pensamento tão cartesiano. fui vítima do bom destino em toda sua glória e resplendor. lançar livro não é coisa fácil pra …

convite para lançamento

vai funcionar assim: não paga nada para entrar, também não paga nada para beber um dos incríveis coquetéis da casa e nadinha para ouvir boa música. ninguém é obrigado a comprar livro e nem ficar a noite toda. liberdade é o outro nome do Dizzy na próxima segunda-feira, dia de lançamento do “Salve o compositor popular”. o livro tá bonito, tem arte do Mirandinha, caricaturas …

19 de dezembro

acho que me comporto bem. não estou azucrinando ninguém, não faço drama, não sou insistente. importante: não criei grupo para ficar monologando sobre. tá certo, mandei um ou outro Whatsapp a modo de desabafar e comunicar meus passos atuais. mas fora isso, estou carregando muda esse drama do lançamento do livro. mas minha pele pipoca, o estômago dói, tenho pesadelos. essa situação é complexa para …

Versailles, vexames

estava bem frio. mais de meio-dia e o trubisco do telefone marcava três graus negativos. mas o iPhone não conhece os elementos, não sabe como a situação pode piorar muito longe da cidade. eu sentia um frio russo. não estava triste. ao contrário, passear pelos jardins de Versailles numa segunda-feira no meio do dia, na solidão das passadas, com sol azul e céu brilhante me …

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