Sobre Curitiba Arquivo
se a morte me aparecesse, olhos nos olhos, acho que tentaria conversar, explicar que há muito a fazer ainda. contaria sobre o horário e sobre os dias. pediria que me fosse devolvido o tempo que gastei em filas de banco, em contas do orçamento, em espera de taxi ou mesa de restaurante. pediria de volta a areia que escorreu para baixo sem serventia alguma. também …
quando o tempo passa e me conta que o que já foi ainda é a vida vem e desmonta ideia de pouca fé… bem quietinha espio meu passado. as vezes ele fala tanto do presente que me assusto. o hoje é um copo cheio de memórias, mala entulhada de lembranças. as fotos da Lívia com o Renato são espécie de resumo de vida. ele um ponto …
teve uma época da minha vida que queria matar o Noviski. ele me enlouquecia. não brigava, não dizia, não usava de sarcasmo ou cinismo comigo, mas me enlouquecia. o contraditório é que eu não conseguia ficar longe dele. não desfazia o laço, não virava a página, não parava, não retrocedia… eu gostava muito do Noviski para o corte. quando terminamos nosso trabalho, eu estava exaurida. …
eu falo de amor em outra língua as vezes ocupo olhos para ouvir uso as mãos, sei pelo cheiro e declaro na canção eu trato do amor no avesso no inverso, no contrário o oposto que é meu reverso a imperfeição de mim no descompasso, converso eu caminho pelo amor como quem anda ou quem corre melhor, quem para e no beijo morre eu sei …
a Soêvia veio aqui em casa. nem sei direito como explicar o fato desse dia ter demorado tanto pra chegar. mas Soêvia veio, e com ela trouxe sorriso escancarado, simpatia quase obscena, conversa estonteante e o olhar cúmplice. passou da porta com a afirmação, não trouxe nada, cheguei com as mãos abanando. e as mãos da Soêvia abanam o mundo, chacoalham a existência, aplaudem sonhos, …
na verdade, acho que todo dia é meu aniversário. o abrir dos olhos é o renascer; cada vez que a Terra se arrodeia, cada desaniversário, cada um dos 364, deveria ser comemorado e reconhecido e agradecido e desejado e presenteado e especialmente conduzido como aquele com data certa. é verdade, cada dia com a chance de vivê-lo, de completá-lo como ciclo único e como parte …
tenho a impressão de que tudo que escorre para o papel é uma espécie de resquício de mim, um resto, vestígio de alguma dor ou alegria que finjo. mas, definitivamente, só finjo aquilo que sinto. talvez as palavras sejam como lágrimas. gotas que não são boas ou ruins, mas que são boas ou ruins. o eterno exercício da comunicação, a tentativa sem fim de dizer …
carrego-a comigo em todos os lugares em que passo. quando saio, meu sotaque se acentua; minhas tintas ficam mais fortes; tenho orgulho e contradições a respeito das araucárias – somos isso, mas não só isso; falo de clima e parques, histórias e teatros, músicos e escritores, avenidas e bosques. viro guardiã, protetora, assumo todos os valores e até umas coisas meio positivistas despencam em mim, …
ano passado, por essa época, encasquetei que era hora de uma cadeira decente aqui pro quartinho. é preciso tratar com respeito as horas de computador. na época, elegi a boa e velha Cimo, tive meus motivos e eles cobriram várias bases, desde o conforto até a estética. meu pai tinha uma Cimo, formava conjunto com escrivaninha e armário da mesma família. escritório completo e elegante …
não tenho aptidões tecnológicas nem interesse em desenvolvê-las. sei algumas coisas porque elas já se popularizaram tanto que pra não ficar tão feio, tratei de assimilá-las. as vezes faço cara de inteligente e uso palavras como provedor, cachê, pop-up, html, byte, mas não sei se elas estão corretamente inseridas nos contextos. é fato que alimento minha ignorância todas as vezes em que coloco o manto …