comportamento Arquivo
não tenho endereços em linha reta. quando estou a andar, sempre prefiro fazer o caminho mais bonito, mesmo que isso multiplique quarteirões. a beleza está solta por aí e colocá-la como integrante nos prazeres cotidianos é enriquecer a vida. fora de casa, em viagem, essa atitude é potencializada. parece que todos os sentidos estão trabalhando com mais força. detalhes mínimos de portas, história contada em …
um dia sem escrita é um dia não vivido. um dia sem leitura não existe. escrevo e leio sem compromisso com o sucesso todos os dias, faz parte da vida. descubro, cada vez mais espantada, que minhas manias se estabelecem gritantes e me transformam num tipo esquisito. meu quartinho é meu santuário. quando saio de lá para trabalhar em outro lugar, retiro santo protetor e …
um circuito de dois minutos (e as vezes de uma vida inteira). a saudade começa branda a pensar em beijo ou olhar ou música ou corpo. caminha um pouco nos complementos e chega a um destino que não existe mais e que mesmo assim faz parte do tempo em que se está. lentamente vai tateando, olhos vendados, um cantinho que deixou de ganhar raios dourados …
cheia de alegria e outras coisas me entrego a tão prazeroso ritual: faço as malas. domingo, 13, sigo para Paris. o tempo é de trabalho. e isso significa que é também de muito contentamento. gosto do que faço e gosto mais quando é na Europa. novo projeto. não tenho muitos problemas com roupas. geralmente uso a que cai primeiro do armário quando abro a porta, …
quando o tempo é curto, a preguiça muita e a fome gritante, almoço num restaurantinho aqui na quadra de casa. é honesto, tem nome de ópera e serve à vizinhança. o pai do dono, um senhor muito simpático, está lá diariamente como um maître des cérémonies, que, sentado na sua mesa de todo dia, cumprimenta esfomeados com sorrisos e acenos. quando vou sozinha as vezes …
mergulho no mês de março. salto sem rede, mês de aniversário. nasci no último dia, o que, me faz, disseram, caminhar pelo inferno astral a partir de agora. eu nem sabia o que é inferno astral, mas parecia que seria caso de cuidado, atenção, zelo. a palavra inferno preocupa. tenho um mês inteirinho antes de dobrar nova esquina, de amarelar um pouco mais a identidade, de …
Renunciar ao amor parecia-me tão insensato como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade. – Simone de Beauvoir renunciar ao prazer é empresa das mais difíceis. largar a cama num escurinho com chuva, chegar ao final da feira, sair do mar quando o sol está bem forte, se desenrolar dos braços do amado, desligar o telefone no melhor da conversa… sou pessoa dada aos prazeres. …
acontece uma coisa quando a gente encontra. encontrar o sapato pra festa, o ingresso pro show, a carta amarelada, a fotografia antiga, o amigo de que se perdeu no tempo. encontrar os óculos, as chaves, o passaporte, o diploma da faculdade. encontrar dinheiro no bolso da calça, oferta do creme preferido, passagens baratas, o caminho de volta pra casa… encontrar dá contentamento. veja só, encontrar …
pela fresta aberta no quartinho, janelinha de um palmo de largura, vejo árvores, passarinhos, prédios, céu, telhados. recorte de cidade. vejo também, e com atenção especial, o meu edifício predileto do bairro. já falei dele por aqui. gosto de suas cenas e de como os vizinhos narram suas vidas na varanda. hoje, enquanto trabalhava e estiquei o rosto para sentir o ventinho da chuva, vi …
impressionada com as bundas na avenida… primeiro com o tanto de bunda bonita que saracoteia diante da escola, dos olhos, do mundo. bundas moldadas no sobe e desce de ladeiras. bundas esculpidas pelo gene africano. bundas que visitam academia e brigadeiro, musculação e preguiça, exercício e sorvete. bundas que conhecem o vaivém a caminho do mar e o balanço sensual de curvas femininas. bundas que …