quando o trem parou em Bruxelas eu já tinha reclinado um pouco a poltrona, feito do casaco cobertor e espiava a paisagem como quem começa a entrar em sonho. preguiça boa: corpo leve, cabeça tranquila. nessas condições que meu colega de viagem sentou-se ao meu lado. agitado, falante, cheio de movimentos e tiques… perguntou, como se fosse possível não saber, para onde iria o trem. …
nas minhas viagens, não importa o lugar, do Chuí a Nova York, de Piraquara a Roma, tenho sempre o grande objetivo de olhar as coisas, as construções, a ocupação dos espaços, a pressa alheia, a comida que se come e a que se serve, a música das ruas, as programações de ordens culturais e, sobretudo, as pessoas. gosto de saber das pessoas. ouvir histórias, observar …
Desliguei o computador, enfiei meia dúzia de roupas na mala, tranquei as portas da memória e saí de férias. O que eu queria? Olhar para o mundo sem carregar lembrança, peso ou obrigação. O que eu consegui? Pouca coisa até agora. Capítulo 1: Lembrança Cheguei ao aeroporto confiante. Na fila do check-in senti o indicador nas minhas costas, Adriana, quanto tempo!. Era a minha primeira …
Pela fresta do quartinho espiei o dia chegando. Não soube direito de suas cores, menos ainda de suas horas; só de suas chuvas que choviam… Sentada aqui, desde quando ainda era ontem, percebi o futuro assim, sem anúncio ou festa, sem gritos ou comemoração. O sábado se fez silencioso, mas bem urgentinho de suas obrigações. Para não atropelar nada nem dar pressa ao que não …
procuro por versos de amor precisam ser singelos, claros, diretos. têm que contar sobre uma vida inteira dos elos dos amantes e caber num único instante. não exijo rima nem métrica mas é obrigatório a cor lilás do fim das tardes de verão procuro por versos de amor que escorram de bocas molhadas em luas e vidradas em beijos opcional, tragam palavras novas e …
Nas últimas semanas tenho acompanhado algumas discussões e participado de outras. Os motes são diferentes, mas a temática dá voltas em torno do mesmo assunto: música popular. O tópico poderia ser mais amplo e tratar da cultura produzida como um todo, a envolver outras praias, mas por conta da minha encarnação passada, acabei mais atenta a esse grupo. Os amplos debates sobre a entrevista de …
moro nos olhos do amado, endereço definitivo, onde começo e termino sussurro e gargalho desfilo e prometo. ouço os seus olhos como sol de manhã de primavera feito brisa de janeiro imensidão de espaço nós de todos os laços. o conjunto dos seus olhos me diz que ele é meu que me quer ser sua que sou sua. a voz dos olhos do amado tem …
Adoro o dia 13. Tenho cá meus motivos, todos eles muito particulares, que não cabem em revelação pública. Coisa bem minha, tão minha que as vezes as perco no meu calendário desordenado e distraído: outros dias acabam virando 13. As vezes as belezas do 13 caem no 12, mas sei que elas pertencem mesmo ao décimo terceiro e que se aparecem antes é para …
“Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou!” (Alberto Caeiro, in “O Guardador de Rebanhos – Poema V”) Querido Deus, Durante todo esse tempo estive por aqui, a esperar que você chegasse e se apresentasse. Desculpe se não consegui ver seus sinais …
Tirei da gaiolinha lápis, gizes, tintas. Todas as cores libertadas. E todas as disposições para usá-las. Saquei as algemas do bloquinho de canson que guardo há muito e que agora é manchado pela pátina do tempo, amarelado pelos anos de gaveta. Abri bem as janelas, escancarei as cortinas, afastei os móveis. Com os ventos a circular, espalhei material em cima da mesa. Escolhi música de …