eu caminho. minha natureza é de pedestre, gosto de estar pra lá e pra cá na independência das passadas. quando viajo há mais prazer na atividade. caminhar sozinha pelo mundo tem umas características que não sei explicar em detalhes nem fazer analogias para o bom entendimento, mas as sinto com muita força. o grande prazer é que tudo é escolha própria. e essa autonomia é …
há um ano, eu passava pela deliciosa experiência de lançar livro. revi pessoas, conheci outras, amigos queridos apareceram e me fizeram sentir felicidade do tamanho do mundo. nem no sonho mais otimista eu pude imaginar que seria tão bacana. juro. mas antes dos vinhos, tive muitos e muitos tombos. foi uma prova de resistência conseguir chegar àquele iluminado 26 de novembro. explico. não achava possível …
quando algum pensamento fica batucando na minha cabeça daquele jeito muito perturbador, que não dá folga e vai me engolindo, vou ao mercado. pego um carrinho e trato de pensar na elaboração de um prato – quanto mais ingredientes melhor. ando pelos corredores procurando o que preciso para a ficção da culinária. primeiro azeite, depois cebola, alho, sal, tomate. e faço o trajeto exatamente na …
parece que tudo vai oscilar entre 4 e 9 graus. dia curto, frio longo, tempo úmido. as folhas estarão naquele dourado outonal, na cor mais bonita, na reflexão mais viva da finitude. Magritte marcou um encontro. disse que me espera no Pompidou. um misto de medo e fascínio me ligam a ele. toda vez que o vejo preciso me esforçar para esquecer essa porção esquisita …
estou aqui, paciente e emocionada, num chá de cadeira de aeroporto. quem espera avião chegar não tem tomada para carregar os apetrechos. me distraio facilmente com o movimento e isso mantém o livro fechado dentro da bolsa. eu gosto de ver as pessoas chegando. acho bonito. sorriso, abraço, início de falação. na minha permanência todos os voos vêm de São Paulo. mas eu sei, as …
gosto de brechós. passo horas a me divertir em mercado de pulgas. adoro sebos. ácaro, poeira, partículas? que nada, tudo isso é a pátina da história. também me acalma a consciência saber que eu contribuo para que o mundo não se encha ainda mais de tranqueiras. pego as que já estão rolando por aí e me satisfaço com elas. nessas horas, sou um tipo sustentável. …
quando eu era criança queria crescer. só isso. meu sonho era ser adulta. ser adulta para poder ser o que eu quisesse, tipo caminhoneira ou carteira. se for ver bem, desde pequena o que eu queria mesmo era ser livre. na minha cabecinha, gente grande só fazia o que bem tivesse vontade. sem regras, sem ordens, sem amarras. eu queria mesmo era cuidar do meu …
gosto desses trovões que despencam do céu, rasgam o murmurinho da cidade com o estrondo que dispara o coração, silêncio de meio segundo, e fazem lembrar que tem roupa no varal, embora eu não tenha quintal. rápido, as janelas estão abertas. esse prenúncio de que a chuva cairá forte e logo estará a correr deitada, afogando meio-fio, lavando o asfalto. esse destino de cidade encharcada. …
não dá para ficar. eu não consigo. é da minha natureza ir, seguir, sair. sim, é também voltar. nesse ano visitei Paris, Zurique, Londres, Antonina, Paranaguá, Buenos Aires… por conta do movimento, perdi o verão. caminhei contra o favorito, a terra girava pra um lado e eu a andar para outro. casacos, calças e meias, muitas meias. chuva, frio e todos os tons de cinza. …
Cris querida, o tempo por aqui anda curto. para o amor, para as conversas, para a observação dos pássaros e pôr do sol. por causa de você, menina, ontem vi a lua. ainda de dia, ainda no azul; toda branquinha e quase inteira. um sopapo na cara dos fracos… ando com vontade de conversar. queria uns papos leves, coisas de música e poesia, de praça …